Oscar Mascarenhas

The biography, the stories and the contribution of Oscar Mascarenhas for the Portuguese Journalism. The honor of NewsMuseum to the reporter who saw his profession as "the most beautiful and exciting the world"


 

 

O convite

Nos primórdios do NewsMuseum, quando «Os Imortais» ainda se chamavam «Panteão de Jornalistas» e o conceito não passava de um rascunho, Luís Paixão Martins convidou Oscar Mascarenhas para um pequeno-almoço no Tivoli.

À mesa, nascia a ideia que ia dar origem ao Comissariado: reunir profissionais de mérito reconhecido, que seriam responsáveis pela seleção dos grandes nomes do Jornalismo português homenageados neste espaço.

Uma escolha disputada, desafiante, em constante atualização. Um desafio que o jornalista não hesitou em abraçar.

A conversa com Luís Paixão Martins assemelhava-se àquela que Oscar Mascarenhas tivera com Carlos Cáceres Monteiros, mais de quatro décadas antes.

Os primeiros passos

«Vais trabalhar para A Capital. Já tratei de tudo».

O anúncio de Cáceres Monteiro apanhou Oscar Mascarenhas de surpresa.

Eram meados de 1974 e o então estudante de Direito da Universidade de Lisboa estava a cumprir o serviço militar obrigatório na Força Aérea.

À época, já estava decidido abandonar o curso de Direito e decidiu aceitar a «experiência de emprego» proposta pelo amigo.

Em janeiro de 1975, chegou ao vespertino, dando início a uma longa e profícua carreira no mundo do jornalismo.

Entre dezenas de viagens, centenas de reportagens e milhares de artigos, Oscar Mascarenhas cobriu diversos eventos marcantes, nacionais e internacionais, dos últimos 40 anos.

Um das suas primeiras lutas no mundo do jornalismo – e que se manteve durante décadas de profissão – foi a grafia do seu nome.

Oscar – escrito assim, sem acento – nasceu a 9 de dezembro de 1949 em Goa, antigo Estado Português da Índia.

A paixão pelo jornalismo manifestou-se ainda na juventude, escrevendo episodicamente para o jornal de parede Fórum, no Liceu Gil Vicente, e para revista Futuro, do Interact Clube de Almada.

Contudo, foi no jornal A Capital que abraçou verdadeiramente o jornalismo.

Repórter-viajante

Em 1984, com dez anos no jornalismo, efetuou uma das reportagens mais marcantes da sua carreira.

«Talvez tenham sido os Jogos Olímpicos de 1984 o trabalho mais importante da minha vida», afirmou o jornalista.

Na madrugada de 13 de agosto, Portugal ficou colado ao ecrã da RTP a acompanhar a Maratona Olímpica.

Oscar Mascarenhas estava em Los Angeles, a acompanhar a comitiva portuguesa ao serviço do Diário de Notícias.

Chegara ao jornal dois anos antes, em 1982, depois de sete anos n’A Capital.

«Lopes traz para Portugal primeira medalha de ouro», era a capa da edição especial do Diário de Notícias.

Uma vitória que, denunciou o enviado especial, os americanos tentaram eclipsar.

Apesar da importância da maratona entre as provas olímpicas, A Portuguesa foi substituída pelo hino americano na última cerimónia dos Jogos de Los Angeles.

«Nada podia estragar a festa patriótica dos americanos nem Carlos Lopes e a primeira medalha de ouro portuguesa», escreveu.

Um feito que, mais de três décadas depois, continua a marcar a história do desporto nacional.

Pelo mundo fora

Oscar Mascarenhas permaneceu na redação do Diário de Notícias durante duas décadas, chegando a redator principal.

Em 1990, cobriu as primeiras eleições livres na RDA após a queda do Muro de Berlim.

Assistiu ao início da Operação Tempestade no Deserto, escrevendo sobre a Guerra do Golfo, em 1990-1991, a partir da Jordânia, Arábia Saudita e Bahreim.

A partir de Jacarta, reportou sobre a X Conferência dos Países Não Alinhados. Juntamente com o Rui Moreira (LUSA), tornou-se um dos primeiros jornalistas em Timor-Leste, cobrindo o julgamento de Xanana Gusmão.

Uma década depois, reportou, a partir de Nova Iorque, os horrores do rescaldo do 11 de setembro.

O espaço aéreo americano estava encerrado, pelo que só no dia 17 chegou ao Diário de Notícias o primeiro texto.

Naqueles dias, Nova Iorque vivia «de silêncios gritantes, a dizerem tudo. […] O pior desses silêncios é o que vem dos escombros dos colossos derrubados. A polícia e os familiares já não têm registado chamadas telefónicas ou sinais de vida».

A um trabalho profícuo enquanto repórter, Oscar Mascarenhas juntava uma escrita crítica, mordaz e raramente consensual, que contribuiu para o tornar num opinion maker.

Assinou, durante uma década, a coluna semanal «Manifestos & Exageros», publicada no Diário de Notícias às quartas-feiras.

Novos desafios

Em 2003, chegou à agência noticiosa Lusa enquanto assessor editorial.

Dois anos depois, tornou-se redator principal.

Em 2007, aceitou um novo desafio: o de «guarda noturno» da informação.

Passou a trabalhar no turno da madrugada, função que desempenhou até passar à pré-reforma, em 2009.

Regressou ao Diário de Notícias, já em 2012, como Provedor do Leitor, função que desempenhou até 2014.

Um cargo onde se manteve igual a si próprio: frontal, crítico, eloquente, e sem temer uma boa discussão.

Uma voz livre… e polémica do jornalismo português, que lhe valeu a fama de um dos mais controversos Provedores da história da publicação.

«Poiares Maduro e Lomba são tão-somente o fascismo a bater-nos à porta», escreveu, num dos seus artigos mais contestados.

Às críticas, Oscar Mascarenhas respondeu com a sua sagacidade habitual:

«Escrevo artigos de opinião. A minha opinião. A minha arma é o verbo e o meu mérito, quando o tenho, é o convencimento. Disparo de frente. E estou de frente à espera de réplica».

Ao longo da sua carreira, colaborou ainda com a Página Um (1976) e com o Jornal do Fundão, onde, em 2003, exerceu as funções de editor executivo.

As suas reportagens foram distinguidas pelo Clube Português de Imprensa com o Prémio Reportagem, em 1985.

No ano seguinte, conquistou o Prémio de Viagem.

Luta pela profissão

Colaborou ainda com diversos organismos como o extinto Conselho de Imprensa, a Comissão da Carteira Profissional e a direção do Sindicato dos Jornalistas, presidindo ao seu Conselho Deontológico durante oito anos.

Esteve diretamente envolvido em negociações de contratos coletivos, nas quais lutou pelos direitos dos jornalistas, sem nunca deixar de exigir destes o cumprimento dos seus deveres.

Entre outubro de 2001 e março de 2002, viajou para Bratislava, na Eslováquia, a convite do Programa Phare, colaborando no projeto de uma nova lei de imprensa.

Além do trabalho no terreno, Oscar Mascarenhas também se distinguiu pela sua atividade no mundo académico.

Já com uma carreira de duas décadas, decidiu tirar uma pós-graduação em jornalismo no ISCTE e na Escola Superior da Comunicação Social.

Seguiu-se o mestrado, e admitira recentemente avançar para o doutoramento em Ciências da Comunicação, também pelo ISCTE.

Mesmo depois da reforma, continua a ser uma voz ativa no mundo mediático, lecionando na Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa.

Faleceu a 6 de maio de 2015, vítima de um ataque cardíaco. 

A notícia foi recebida com pesar pela comunidade jornalística. Marcelo Rebelo de Sousa não deixou de prestar a sua homenagem, no seu comentário semanal na TVI.

As redes sociais também foram utilizadas para relembrar o jornalista, o professor e, acima de tudo, o homem.

As obras

Ao seu trabalho jornalístico, soma-se a publicação de duas obras.

Em 2001, lançou O Poder Corporativo Contra a Informação.

Três anos depois, seguiu-se Nuvem de Chumbo. O Processo Casa Pia na Imprensa, com Nuno Ivo.

A sua tese de mestrado, intitulada O Detetive historiador. O jornalismo de investigação e a sua ética, estava em fase de publicação.

Preparava ainda um livro com uma vasta seleção de citações, que foi lançado a título póstumo a 2 de dezembro de 2015.

O Grande Livro dos Pensamentos & das Citaçõesreúne mais de 5 000 frases sobre temas tão variados como o amor, a guerra, a religião ou a vida.

Um trabalho cujos méritos não se esgotam no título de contracapa – Cábula de Falsa Erudição para Abrilhantar Discursos, Apresentações Promocionais, Trabalhos Académicos, Dedicatórias, Conversas de Salão e Imprimir em T-shirts.

Uma obra de confronto de pensamentos, de diversão, de revisita de momentos marcantes da História, e, essencialmente, de descoberta. Uma obra que cabe ao próprio leitor terminar, acrescentando as citações que recolheu.

A atravessar toda sua carreira, um apurado sentido de missão.

«Quando ingressei no jornalismo, já em tempo de liberdade, fui para não ser como (eu achava que) os outros tinham sido».

Um contributo inegável para jornalismo, aquela que considerava «a profissão mais bela e apaixonante do mundo».

A homenagem

O NewsMuseum presta a sua homenagem a Oscar Mascarenhas, no espaço que reservamos para aqueles que tanto fizeram pelo Jornalismo português e que, através dele, contribuíram para a evolução do país.

O jornalista deixa a sua marca na seleção dos nomes que integram o espaço nobre do NewsMuseum, dedicado aos «Imortais».

Uma evocação simbólica da biografia, das estórias e das páginas do Jornalismo português que Oscar Mascarenhas ajudou a escrever.

«Esta é uma para os meus biógrafos».