1963
Cobertura Mediática

Assassinato de JKF

“In Dallas, Texas, three shots were fired at President Kennedy's motorcade in downtown Dallas. The first reports say that President Kennedy has been seriously wounded by this shooting.” [Em Dallas, Texas, foram disparados três tiros sobre o cortejo do Presidente Kennedy. As primeiras informações dão conta que o Presidente Kennedy ficou gravemente ferido no tiroteio]

A notícia que não queria ser dada

Estamos a 22 de novembro de 1963, o relógio marca 12h40 e pela voz de Walter Cronkite (CBS) a América é informada do atentado a John F. Kennedy. A CBS antecipa-se à concorrente NBC por menos de um minuto.

Nessa sexta-feira, Walter Cronkite prepara mais uma emissão do seu noticiário da tarde enquanto a telenovela “As the World Turns” está no ar. A informação sobre o tiroteio apanha a equipa de surpresa. O primeiro anúncio é feito através da leitura de um boletim por cima de uma imagem fixa de um placard CBS News.

 

 

A emissão volta à programação normal. Mas a redação da CBS está ao rubro. As informações continuam a chegar e a telenovela é interrompida para mais boletins especiais que dão conta dos últimos desenvolvimentos.

Depois de múltiplos boletins, a notícia ganha imagem. Em vez de utilizar os estúdios habituais, que se assemelham a uma sala de estar, Cronkite conduz a emissão diretamente a partir da redação. Foi aí que informa os norte-americanos da morte do seu Presidente.

 

 

 

 

Uma hora depois do tiroteio, 68 por cento da população nacional já sabe da notícia. Duas horas depois, o valor ascende aos 92 por cento. Metade descobre através da TV ou da rádio. Apesar da tecnologia incipiente de 1963, os jornalistas intuem a necessidade de transmitir em direto do local. As emissoras enviam jornalistas para fazer a cobertura e deixam as imagens falar sempre que possível.

 

 

Um país em agitação

A cobertura mediática não se limitou ao local do crime. Em Washington, os repórteres aguardam a chegada do corpo de Kennedy e da comitiva presidencial. O Air Force One, que essa manhã transporta Kennedy para Dallas, traz agora outro Presidente de volta a Washington. Poucas horas depois da morte de Kennedy, a bordo do Air Force One, Lyndon B. Johnson é oficializado como o 36.º Presidente dos Estados Unidos da América. A seu lado, ainda com as roupas manchadas de sangue que usa no cortejo, a agora viúva Jacqueline Kennedy.

 

 

 

A rivalidade entre JFK e Lyndon B. Johnson

A relação entre os dois democratas nem sempre é pacífica. Ambos competem nas Primárias que definem o candidato presidencial para as eleições de 1960. Apesar da sua experiência, Johnson perde para JFK, que é o candidato nomeado pelo partido.

A possível tensão entre os políticos é ocultada pela aparente cordialidade, culminando com o convite a Johnson para a vice-presidência. Com a morte de Kennedy, Johnson assumiu a liderança do país.

 

 

À chegada a Washington, Lyndon B. Johnson faz as suas primeiras declarações na qualidade de novo Presidente dos Estados Unidos da América. 

 

 

 

 

«Esta é uma data triste para todos. Sofremos uma perda que não pode ser colmatada. Para mim, é uma profunda tragédia pessoal»

 

Em Dallas, o crime já tem um rosto. Lee Harvey Oswald, de 24 anos, é detido pelo alegado assassinato de um polícia e descobrem-se provas que o ligavam aos disparos sobre Kennedy. Ao final da tarde, os telespetadores podem observar a marcha de Oswald, algemado, para a sede da polícia de Dallas. Ainda nessa noite, é formalmente acusado do assassinato do Presidente dos Estados Unidos.

 

 

O suspeito é exibido em permanência perante os jornalistas, que o questionavam diretamente. No entanto, o suspeito nega, em todos os momentos, ter disparado sobre Kennedy.

 

 

 

 

O círculo mediático é tão apertado que a televisão ganha contornos de sala de tribunal, com os seus culpados, vítimas e acusadores.

A manchete universal

No sábado, dia seguinte ao assassinato, a notícia torna-se global. Os jornais fazem capa com a morte do Presidente, os últimos desenvolvimentos da investigação e as reações de líderes e autoridades mundiais. Portugal não é exceção. A morte de Kennedy faz capas dos periódicos nacionais, depois da necessária aprovação da Censura.

 

 

Apesar de, em 1960, se estimar que 88 a 90% dos lares norte-americanos têm um aparelho de televisão, os jornais e a rádio continuam a ser a principal fonte de notícias. Isso está prestes a mudar. A televisão leva a tragédia às casas dos Americanos. Foi com o assassinato de Kennedy que os Estados Unidos se tornam verdadeiramente numa nação televisiva. Ao longo desse fim-de-semana de novembro, os olhos da nação estão colados ao aparelho, onde a cobertura se centrava nas cerimónias fúnebres.

 

O assassinato do alegado assassínio

No domingo, a NBC está prestes a concluir uma reportagem de dois minutos a partir do Massachusetts, terra natal de Kennedy, quando Tom Pettit, que cobre a esquadra de Dallas, grita «Coloquem-me no ar! Coloquem-me no ar!» As câmaras da NBC voam para Dallas, onde o alegado assassino Lee Oswald é escoltado para uma carrinha na garagem da sede da polícia. Do lado inferior direito da televisão, um homem precipita-se sobre Oswald. Ouve-se um tiro. Oswald cai. A voz de Tom Pettit sobrepõe-se ao caos.

 

 

 

 

O assassínio de Oswald é transmitido em direto para todo o país. A sua versão dos factos fica perdida para sempre. Jack Ruby é o homem misterioso que dispara sobre Oswald. Detido e acusado de homicídio, Ruby é condenado à pena capital, mas acaba por morrer de cancro enquanto aguarda novo julgamento. Não sem antes deixar a sua versão da história, numa entrevista feita pelo seu advogado e pelo seu irmão.

 

 

 

 

 

A cobertura mediática do funeral de JFK

Nos três dias que se seguem ao assassínio, as cerimónias fúnebres de JFK são alvo de intensa cobertura mediática. A América assiste incrédula aos últimos desenvolvimentos enquanto o mundo chorava a morte do Presidente.

 

 

Na segunda-feira, 25 de novembro, o funeral é acompanhado ao minuto e conquista uma das mais elevadas audiências jamais registadas nos Estados Unidos. 

 

 

 

 

O rescaldo

Desde o momento do tiroteio até ao funeral em Washington, os principais canais norte-americanos suspendem a programação habitual, privilegiando a transmissão em direto. A CBS tem um total de 55 horas de emissão. A ABC chega às 60 horas. A NBC atinge as 71 horas.

Uma semana depois da morte de Kennedy, é instaurada a Warren Commission para investigar os acontecimentos. O relatório final é apresentado em setembro de 1964. Oswald é apontado como o culpado pela morte de Kennedy, considerando-se que tanto ele como Ruby agiram sozinhos.

 

Os resultados da investigação trouxeram o tema de volta para os meios de comunicação. Contudo, as conclusões têm sido questionadas ao longo dos anos.

 

 

 

Kennedy, um fenómeno mediático

A intensidade da cobertura mediática da morte de Kennedy não teve precedentes na História norte-americana. Afinal JFK era, ele próprio, um produto dos meios de comunicação.

 

 

Em 1960, o icónico debate que opõe o então senador Kennedy a Richard Nixon é o primeiro a ser transmitido na televisão. Nixon, a recuperar de uma recente hospitalização, apareceu no ecrã pálido e fragilizado. Kennedy, em contraste, parecia confiante e calmo.

 

 

 

 

Nesta fase da carreira política de Kennedy, a fronteira entre político e estrela televisiva esbate-se. Acompanhado pela esposa Jacqueline, JFK conquistou os votos da América ao conquistar os seus televisores. A criação de uma figura mítica, que não se apagou com a sua morte.

 

 

Uma semana depois do assassínio, o jornalista Theodore White recebe uma chamada de Jacqueline Kennedy. A antiga Primeira Dama escolhe White, vencedor de um prémio Pulitzer, para fazer chegar as suas palavras ao mundo. White liga aos editores a informar do exclusivo, mas a edição da Life estava prestes a fechar. Esperar pelo artigo ia custar 30 mil dólares por hora. A entrevista avança. O objetivo de Jacqueline Kennedy? «Que o Jack não seja esquecido pela História».

 

A fechar a entrevista, a antiga Primeira-dama alude à banda sonora do musical sobre Camelot, que costumava ouvir com JFK. «Não deixem que seja esquecido que houve, uma vez, um lugar, por um breve, brilhante momento, conhecido como Camelot», cita. «Haverão ótimos presidentes novamente, mas nunca haverá outro Camelot». As palavras fazem eco pelo país.

A Primeira-dama

Esta não é a primeira vez que Jacqueline Kennedy assume o protagonismo. A Primeira-dama conquista um papel de destaque na carreira política de JFK.

 

 

Ao longo da campanha para as presidenciais de 1960, Jacqueline Kennedy dá entrevistas, grava anúncios e contribui para fortalecer a imagem e reputação de JFK. Durante a gravidez, por conselho médico, deixa de acompanhar o marido nas viagens. Receando o efeito que a sua ausência pudesse ter na campanha, Jacqueline é aconselhada a escrever uma coluna diária que apelasse ao voto feminino. Assim surge “Campaign Wife”, publicada em jornais pelo país fora.