Camarate
O bimotor Cessna C421 descola do Aeroporto Internacional de Lisboa com destino ao Porto. Menos de um minuto depois, despenha-se no Bairro das Fontainhas, em Camarate. Francisco Sá Carneiro viaja a bordo.
O desastre
«Francisco Sá Carneiro, Primeiro-Ministro de Portugal, faleceu há pouco mais de uma hora num desastre de aviação». São 21h29 do dia 4 de dezembro de 1980 e a RTP interrompe a emissão habitual para dar conta do desastre.
O bimotor Cessna C421 descola do Aeroporto Internacional de Lisboa com destino ao Porto. Menos de um minuto depois, despenha-se no Bairro das Fontainhas, em Camarate, mesmo junto ao aeroporto.
A bordo seguem o Primeiro-Ministro português, Francisco Sá Carneiro, a sua companheira, Snu Abecassis, Adelino Amaro da Costa, Ministro da Defesa, e a sua mulher, o chefe de gabinete do Primeiro-Ministro, António Patrício Gouveia, e os dois pilotos do aparelho. A confirmação das notícias não tarda.
«O Ministro da Administração Interna, Eurico de Melo, já confirmou à RTP e aos jornalistas presentes que efetivamente aquele era a avioneta onde seguia o Primeiro-Ministro», anuncia estação pública.
Também as rádios estão em cima do acontecimento, com emissões especiais dedicadas ao desastre e o envio de repórteres para o local. A notícia atravessa a fronteira e faz eco na rádio espanhola.
Em Camarate, os jornalistas pressionam a deputada Helena Roseta. «E agora, o que é que vai acontecer?» «Continuamos. Portugal continua».
O rescaldo do acidente
Diogo Freitas do Amaral, vice Primeiro-Ministro do Governo de Sá Carneiro, faz uma comunicação ao país. «Portugueses, num horrível acidente de aviação, morreu hoje, ao princípio da noite, o Primeiro-Ministro de Portugal, Dr. Francisco Sá Carneiro».
As palavras de homenagem chegam até pela voz dos opositores políticos. «Esta é uma hora de consternação e de luto para todos os portugueses e para todos os democratas».
O destaque mediático
Nos dias e semanas que se seguem, a história faz capas.
«Há ocasiões em que as palavras parecem escassas para exprimirem o sentimento trágico que se apodera da comunidade nacional», lê-se no editorial do Diário de Notícias, liderado por Mário Mesquita, numa segunda edição do dia 5 de dezembro. A frase ilustra o sentimento de incredulidade e emoção que se alastrou pelo país.
Em campanha presidencial
Na fatídica noite, a avioneta segue para o Porto, onde Sá Carneiro deve participar num comício da campanha presidencial. Faltavam três dias para decisão final dos eleitores nas segundas eleições presidenciais da democracia. De um lado, o Presidente da República em mandato, o general Ramalho Eanes. Do outro, o general Soares Carneiro, apoiado pela Aliança Democrática.
No dia da sua morte, o Primeiro-Ministro dá uma última conferência de imprensa e grava a derradeira mensagem aos Portugueses.
Na data do sufrágio, 7 de dezembro, as presidenciais dividem capas com o funeral de Sá Carneiro, decorrido no dia anterior. O cortejo sai dos Jerónimos para o Cemitério do Alto de São João, um percurso que dura cinco horas é acompanhado por milhares de pessoas.
Apesar da comoção nacional, Ramalho Eanes é reeleito com 56,44 por cento dos votos, colocando um fim ao sonho de «uma maioria, um governo e um presidente» de Sá Carneiro. Os resultados surpreendem alguns comentadores políticos, que esperam que a reação emocional do país em relação à tragédia pudesse inverter a tendência de vitória de Ramalho Eanes.
As suspeitas
Ainda nesse mês, é levantada a teoria que a queda da aeronave podia não ter-se tratado de um acidente.
Em Janeiro seguinte, o Expresso avança informações sobre as autópsias e detalhes sobre a queda da aeronave.
A especulação nunca foi travada. Ao longo das décadas, sucessivas Comissões Parlamentares analisaram as circunstâncias da tragédia de Camarate.