Nadia Comăneci

Durante o ano de 1977, 790 bebés norte-americanas foram batizadas «Nadia». A razão do súbito salto de popularidade? Uma menina romena de 14 anos.

Em julho de 1976, a capa da Time, da Sports Illustrated e da Newsweek tinha a mesma protagonista: Nadia Comăneci.

Nos Jogos Olímpicos de Montreal, a atleta deslumbrara os media… e os jurados.

A ginasta tornou-se a primeira desportista da modalidade a conquistar a pontuação de 10. Saiu de Montreal com mais seis pontuações máximas, três medalhas de ouro, uma de prata e uma de bronze.

O impacto foi tal que, em 1976, nove bebés foram batizados com o nome «Comaneci».

Nasce a «Nadiamania»

"No woman gymnast in the history of the Olympics has matched the achievement of this 14-year-old Romanian champion" [«Nenhuma ginasta na História dos Jogos Olímpicos conseguiu igualar as conquistas desta campeã romena de 14 anos»], anunciavam os media.

A atleta regressou à Roménia em plena «Nadiamania». Milhares de pessoas juntaram-se no aeroporto para lhe dar as boas-vindas.

 

 

A música batizada em sua homenagem tornou-se um sucesso internacional e conquistou um Grammy.

Celebridade por excelência na Roménia, a jovem Nadia tornou-se um ídolo internacional.

O Presidente Nicolai Ceaucescu recebeu-a pessoalmente e condecorou-a como heroína do social-trabalhismo, a mais jovem de sempre.

Mas a pressão do estrelato começava a ter consequências.

A sua relação com o regime deteriorava-se: a sua presença em eventos oficiais impedia-a de se dedicar devidamente aos treinos.

“Ceauscecu family used me to be involved in a lot of political events and I was not a political person, I was a sports person. […] And I didn’t have a private life. And I realized that I would never have a private life as long as that family would be alive” [«A família Ceauscecu usou-me para me envolver numa série de envetos politicos e eu não era uma pessoa da política, era uma pessoa do desporto. […] E não tinha uma vida privada. E apercebi-me de que nunca teria uma vida priva enquanto aquela família vivesse»], confessou a atleta.

O regime receava que a sua estrela mais brilhante se deixasse conquistar pelo estilo de vida ocidental.

Por detrás da Cortina de Ferro

Na ginástica, Nadia continuava a triunfar, conquistando mais quatro medalhas nos Jogos Olímpicos de 1980.

No ano seguinte, anunciou a sua retirada da competição.

 

 

Por detrás da cortina de ferro, começavam a circular rumores sobre a sua vida privada, desde o seu suposto relacionamento com o filho do Presidente romeno até à sua alegada tentativa de suicídio.

A vigilância intensificou-se ainda mais com a fuga do seu treinador, Bela Károlyi, para os Estados Unidos.

Em 1984, Nadia viajou até ao continente americano enquanto convidada para os Jogos Olímpicos, sob apertado escrutínio dos seus acompanhantes.

No seu regresso, o cerco apertava-se: foi proibida de viajar para fora da Europa de Leste.

“My life drastically changed after the Károlyi defection. I was no longer allowed to travel outside Romania. […] I started to feel like a prisoner. In reality, I'd always been one” [«A minha vida mudou drasticamente depois da fuga de Károlyi. Já não tinha permissão para viajar para fora da Roménia. […] Comecei a sentir-me como uma prisioneira. Na verdade, sempre tinha sido uma»], contou Nadia.

Em novembro de 1989, decidiu escapar clandestinamente.

“Walked in the middle of the night, six hours. Dangers, snow, ice and mines. […] It was very hard” [«Caminhámos a meio da noite, seis horas. Perigos, neve, gelo e minas. […] Foi muito difícil], afirmou, em entrevista.

O sonho americano

A 1 de dezembro de 1989, Nadia Comăneci aterrava em Nova Iorque, escapando às malhas apertadas do regime comunista romeno.

”I am very happy because I am here in America, and I wanted for a long time to come here” [«Estou muito feliz porque estou aqui na América, e queria há muito tempo vir para cá»], contou aos media, ainda no aeroporto.

Nesse mesmo mês, o Presidente Ceausescu era executado e a Roménia libertava-se do seu regime opressor.

No seu mediático regresso à América, já pouco havia em Nadia da menina de rabo de cavalo que, 13 anos antes, encantara o mundo do desporto.

“Nadia was the leaping, socialist princess, perfect in every way, getting 10s for dancing on a rail. She was Cinderella in Iron Curtain tights. This one needs a good vacuuming, and Cinderella’s prince did not already have four children” [«Nadia era a princesa socialista dos saltos, perfeita de todas as formas, a conquistar 10 por dançar na barra. Era a Cinderela em collants da Cortina de Ferro. Esta precisa de uma boa limpeza e o Príncipe da Cinderela não tinha já quatro filhos»] , escreveu o jornalista Bernie Lincicome, em dezembro de 1989.

A natureza da sua relação com Constantine Panait, que a ajudara a escapar da Roménia e que se tornara seu agente, levantou especulação e manchou a sua reputação junto dos norte-americanos.

“The strange and terrible story of the Olympic angel who won our hearts at the 1976 Games – and went to hell in Ceaucescu‘s Romania” [«A estranha e terrível história do anjo olímpico que conquistou os nossos corações nos Jogos de 1976 – e desceu ao inferno na Roménia de Ceaucescu»], escreveu a Life, a 1 de março de 1990.

Da sua nova vida nos Estados Unidos ao pesadelo vivido na Roménia, multiplicavam-se as manchetes sobre a vida pessoal de Nadia.

Os escândalos mediáticos não impediram o seu regresso ao mundo do desporto.

No início dos anos 90, voltou a dedicar-se à ginástica, promovendo digressões e apoiando a prática desportiva.

O regresso à Roménia

Nadia Comăneci voltou a Bucareste em 1994, com a equipa romena, que tinha acabado de vencer o título mundial.

 

 

“I’m very happy to be back after five years since I left […] I couldn’t believe how many people were at the airport waiting for me» [«Estou muito feliz por estar de volta, cinco anos depois de ter partido […] Nem acredito no número de pessoas que estavam no aeroporto à minha espera”], revelou, em conferência de imprensa.

A acompanhar Nadia na visita à Roménia estava Bart Conner.

Os dois antigos atletas olímpicos tinham participado – e saído vitoriosos – da American Cup, em 1976.

Em 1996, duas décadas depois dessa vitória, casaram-se em Bucareste, uma cerimónia transmitida ao vivo na televisão do país.

“When I got married in Bucharest there were 10,000 people on the street. People didn’t go to work that day” [«Quando me casei, em Bucareste, estavam 10.000 pessoas na rua. As pessoas não foram trabalhar nesse dia», revelou a atleta.

Nadia voltava a ser uma heroína nacional. A «Nadiamania» estava de volta à Roménia – ou talvez nunca tivesse  realmente terminado.