Mário Castrim
Manuel Nunes da Fonseca, pouco conhecido para alguns; Mário Castrim, deveras célebre para muitos. Numa época riscada pelo «Lápis Azul», Manuel Nunes da Fonseca adota o pseudónimo de Mário Castrim para esconder a sua identidade
Mário Castrim nasceu Manuel Nunes da Fonseca, em Ílhavo, a 31 de julho de 1920.
Casado com a escritora e jornalista Alice Vieira, o casal teve uma filha, Catarina, que mais tarde assinaria os seus livros como Catarina da Fonseca.
A carreira jornalística de Mário Castrim teve início em 1965, no Diário de Lisboa.
Logo começou a criticar a fraca prestação da televisão da altura, facto que o fez inaugurar um novo estilo no jornalismo português: a crítica televisiva.
Mais tarde, após o encerramento do Diário de Lisboa, trabalharia no semanário Tal & Qual, onde iria manter a página «Canal da Crítica» durante vários anos.
Mário Castrim tornava-se o primeiro crítico de televisão em Portugal.
Pioneiro nesta área, Mário Castrim foi o primeiro a reconhecer a qualidade de certos programas, como a história de José Hermano Saraiva ou «Nós, as mulheres», onde o crítico falou de uma «rapariga de olhos rasgados» (Maria de Lurdes Modesto) afirmando: «Finalmente apareceu alguém que sabe como se fala em televisão».
Uma carreira multifacetada
Militante comunista, Mário Castrim colaborou ainda com o jornal Avante!, onde revelou uma outra faceta que ele próprio subvalorizava: a de grande poeta.
Professor, jornalista, escritor, dramaturgo, crítico literário e televisivo, Mário Castrim era um intelectual multifacetado.
Em 1963 criou o Diário de Lisboa – juvenil, um suplemento onde se formaram grandes nomes de intelectuais, escritores ou jornalistas.
O jornalista cedo conquistou o público infantil. Escreveria diversos livros infantis e juvenis, assim como peças de teatro.
Na revista juvenil Audácia, dos Missionários Combonianos, Mário Castrim muitas vezes abordou o papel da televisão no quotidiano dos jovens e crianças.
Mais tarde, estas crónicas foram compiladas e editadas nos livros O Lugar do Televisor.
As suas crónicas, não apenas as dirigidas ao público jovem, eram mordazes, implacáveis e mobilizadoras.
O seu nível de exigência quanto à televisão, no seu papel de crítico televisivo, valeu-lhe a fama de intolerante.
Intolerante ou não, Mário Castrim imortalizou o seu nome no jornalismo.
Morreu a 15 de outubro de 2002.
Numa época em que poucos se atreviam, o jornalista e cronista desbravou caminho e fundou a crítica televisiva, um estilo novo na altura, e tão comum nos dias de hoje.
«Mário Castrim foi o mestre que ensinou milhares de pessoas a olhar para o pequeno ecrã de outra maneira. Ele não só era o mais antigo crítico, como foi o seu mentor. Foi ele que inaugurou este estilo no jornalismo português, porque antes não havia ninguém a fazer crítica de programas televisivos».
Jorge Leitão Ramos