Vítor Direito

Correio da Manhãé, no Séc. XXI, o jornal diário mais lido em Portugal. O seu fundador… um licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa

Vítor Direito nasceu no Vimioso a 23 de novembro de 1931.

A sua carreira jornalística iniciou-se na rádio, no Porto, em jornalismo desportivo.

Em 1951, entrou na redação do Diário de Lisboa, onde trabalhou com grandes nomes como Assis Pacheco, Bessa Múrias, Joaquim Letria, José Carlos Vasconcelos e Mário Zambujal.

Jornalismo no Estado Novo

A 27 de abril de 1966, comemorava-se o 38.º aniversário da nomeação de António de Oliveira Salazar para o governo, e o telex enviava de forma incessante informação insípida aos jornalistas.

Vítor Direito vê algo que lhe chama a atenção na edição do dia do Diário de Governo, III série, e publica uma peculiar notícia no Diário de Lisboa

Na manhã do dia 28, a brigada da PIDE apresentou-se no Diário de Lisboae intimou Vítor Direito, chefe da redação, para interrogatório na sede. O jornalista não era desconhecido naquelas paragens, tendo já sido interrogado diversas vezes em outras ocasiões.

Entretanto, no Porto, os proprietários da empresa Luís de Oliveira Barros, Alfredo de Oliveira Barros e Joaquim Castro Feijó eram intimados pela PIDE, no dia mais surreal das suas vidas. Tinham aceite Miguel Thenaisie Salazar Coelho como quarto sócio, e este, em serviço militar, era conhecido como Miguel Coelho, pelo que ninguém o associaria à firma se o apelido intermédio fosse utilizado. Assim tinha nascido a empresa Oliveiras, Salazar & Cia, Lda.

O processo acabou por ser fechado, após 15 folhas de uma fervilhante e inútil atividade de inquérito, com a conclusão de que «não se averiguou que tivesse havido intenção malévola na publicação da notícia».

Quanto a Vítor Direito, descobriu que conseguia diminuir «a grande figura» do Presidente do Conselho com um texto de treze linhas, publicado na página 10 do Diário de Lisboa.

Mais tarde, Vítor Direito embarca num novo projeto, novamente com Raul Rego. O jornal A República nasce em 1972, tornando-se no baluarte das tradições da liberdade contra a ditadura do Estado Novo.

Seria também aqui que o jornalista viveria os dias conturbados e difíceis do PREC.

«Vítor Direito, muito rigoroso e independente, sofreu muito nessa fase difícil, porque era muito atacado e criticado como sendo de direita», recorda Arons de Carvalho, que na altura se iniciava como jornalista.

Mais tarde, com a extinção d’A República, continuou a acompanhar Raul Rego, desta vez na criação d’A Luta.

Nasce um novo projeto

Decorria o ano de 1979.

Saddam Hussein chegava ao poder no Iraque, e Margaret Thatcher ganhava as eleições em Inglaterra. João Paulo II visitava Fátima e a República Popular da China reconhecia Macau como território chinês sob administração portuguesa.

O país ainda sentia na pele os efeitos da nacionalização dos órgãos de comunicação, e Vítor Direito sentia a necessidade de um jornalismo independente do poder político, que abordasse os problemas do cidadão comum.

O Correio da Manhãdespontava nas mãos de Vítor Direito e Agostinho de Azevedo.

A ideia inicial do projeto era muito simples. Um jornal popular, sem combate político, com pouca opinião e muito informação noticiosa.

Manuela Silva Reis, jornalista da redação do então novo jornal, afirma:

«Não foi por acaso que Vítor Direito fundou o Correio da Manhã a 19 de março, data em que se celebra o Dia do Pai. Nesse dia, e durante os 18 anos em que escrevi para aquele jornal, o diretor do “CM” reunia a “família” em dia tradicionalmente comemorado... em família».

Rapidamente, a prosa de Vítor Direito enquanto bilhetista, publicada diariamente no «Bilhete Postal», torna-se a imagem de marca do Correio da Manhã.

O Correio da Manhãcrescia a olhos vistos, tornando-se o jornal mais lido e vendido no país.

Vítor Direito estaria à frente do diário até 1991. A partir daí ficar-lhe-ia reservado o título de Presidente Diretor Geral.

A marca no Jornalismo

Em 2000, o sucesso de Vítor Direito era reconhecido, quando o Presidente da República Jorge Sampaio lhe atribuiu o grau de comendador da Ordem do Infante D. Henrique.

Em abril de 2004, Vítor Direito foi convidado pelo antigo diretor do Diário de Lisboa, António Ruella Ramos, para conceber uma edição especial do Diário de Notícias.

Para assinalar o 30.º aniversário da Revolução dos Cravos, o suplemento DNA faria uma edição submetida ao crivo da censura.

A ideia era criar graficamente um processo de cortar os textos que a censura, se ainda existisse, eliminaria.

O suplemento desse mês era publicado com «cortes» a lápis azul, feitos pela dupla de jornalistas que mais sofreu com a censura.

Vítor Direito faleceu a 1 de abril de 2009, aos 78 anos.

Atrás de si deixaria um legado inabalável, a que ainda hoje assistimos. O «CM», comummente chamado, delinearia o seu caminho próprio com a sua linguagem simples e concisa, tornando-se uma verdadeira marca popular em Portugal.