A revolta dos boxers vem de telégrafo
No Séc. XIX, a invenção do telégrafo afetou todos os aspetos da vida política e social da época, do comércio à diplomacia e às relações internacionais. A prova disso foi a revolta dos boxers na China de 1900.
A 30 de maio de 1900, Claude Maxwell MacDonald, o ministro britânico na China, envia um telegrama a Lord Salisbury, seu colega dos Negócios Estrangeiros, a pedir reforços para Pequim, no norte da China.
A 4 de junho, MacDonald envia nova mensagem:
“I have to report that the situation in Peking is such that we may be besieged at any moment here, with the telegraph lines cut and the railway obstructed.” [«Tenho de reportar que a situação em Pequim é tal que podemos ser cercados a qualquer momento, com as linhas telegráficas cortadas e o caminho de ferro bloqueado»].
Dá-se início a um surto de mortes e violência.
O longo domínio estrangeiro na China, por parte de Inglaterra e do Japão, tornava-se opressivo para grande parte da população. A grave disrupção económica, aliada ao período de seca extrema que se vivia, provocaram a criação de uma sociedade secreta chinesa denominada Yihequan.
Os membros de Yihequan, rapidamente apelidados de boxers pelos estrangeiros, lideraram uma revolta no norte da China, onde a influência japonesa e ocidental no país mais se denotava.
O pânico estava lançado.
O isolamento
Com sede de vingança, os boxers matam chineses e missionários cristãos por onde passam. Tudo o que estava associado à cultura ocidental era considerado um inimigo.
A 20 de junho de 1900, os boxers cercam o distrito de legação estrangeira de Pequim.
No dia seguinte, a imperatriz Tzu’u Hzi declarou guerra a todas as nações estrangeiras com relações diplomáticas na China – o Governo da Dinastia Qing aliava-se aos boxers.
Enquanto os aliados estrangeiros juntavam forças para combater a revolução, os boxers mantiveram o braço de ferro, não levantando o cerco.
As forças de apoio não conseguiam chegar à cidade porque os boxers tinham destruído os caminhos de ferro, para além de cortarem o telégrafo entre Pequim e Tianjin, e entre Pequim e a Rússia.
Na altura, o telégrafo estava longe de ser utilizado com frequência no império britânico. Os diplomatas britânicos na China temiam a nova tecnologia, pois a informação recebida proveniente de Inglaterra sobrepunha-se à sua jurisdição no território colonial.
Com as ligações cortadas, Pequim ficava incomunicável com o exterior. A Embaixada da China em Londres não tinha como saber o que estava a acontecer na capital, e a única alternativa de comunicação era via carta, que demorava cerca de dois meses a chegar ao destino.
Os chineses usavam as tecnologias ocidentais contra o domínio estrangeiro.
Nem os ministros britânicos das outras cidades chinesas conseguiam comunicar com MacDonald em Pequim. Restava apenas a especulação sobre a situação na capital chinesa por parte dos oficiais em Londres.
O poder do telégrafo
A 14 de agosto de1900, as tropas ocidentais tomaram Pequim e libertaram a delegação estrangeira. Os responsáveis foram executados e uma valiosa lição era aprendida.
Os chineses, ao usarem o telégrafo contra as forças ocidentais, mostravam ao poder britânico a derradeira importância da comunicação em tempos de crise.
Após a revolução, a Grã-Bretanha utilizou este meio de comunicação para reivindicar territórios e montou várias linhas em toda a China para apoiar as esferas de interesse britânicas ao longo da costa chinesa.
O telégrafo, para além de um instrumento do imperialismo, tornava-se também um meio de colonização na China.
O jornal The San Francisco Call, de 14 de junho de 1901, gritava o seguinte cabeçalho:
“Sir Claude MacDonald declares boxer uprising was cau5ed by the aggressions of foreigners and enmity of mandarins” [Sir Claude MacDonald declara que a revolução dos boxers foi causada pelas agressões dos estrangeiros e a inimizade dos mandarins»].
A consciência da culpa do lado ocidental fazia-se notar. No entanto, tal não impediu que os responsáveis pela revolução, incluindo o próprio Governo chinês, fossem severamente punidos.
A 7 de setembro de 1901, era assinado o Protocolo Boxer, entre o Império Qing e os Aliados estrangeiros (incluindo o Reino Unido, os EUA, Itália, França, Alemanha, Áustria-Hungria, Rússia e Japão).
O Governo da dinastia Qing ficava destituído de autoridade e completamente humilhado com este acordo.
Como havia sido provado na guerra hispano-americana ou na guerra Boer, o controlo do Governo sobre as linhas do telégrafo era crucial para o resultado do conflito, ao lhe dar acesso e controlo sobre a informação.
A importância do telégrafo como meio de comunicação era, mais uma vez, testada.
Esta nova tecnologia ganhava reconhecimento no imperialismo e na transnacionalização das relações económicas entre os países.