A Propaganda através dos tempos
A Propaganda acompanha a Humanidade a par da Comunicação. A Igreja Católica batiza-a. Revoluções, guerras ditaduras dão-lhe diferentes conotações ao longo do tempo, muitas vezes negativas. A própria Igreja Católica deixa cair a palavra. E a prática?
A Propaganda tem um problema de Reputação. Já foi abençoada pelo Papa, já foi serviço público e objeto de carreiras respeitadas. Mas ganhou conotação negativa.
É, hoje em dia, sinónimo de manipulação. Nós recusamos ser objeto da Propaganda e ambicionamos ser-lhe imunes. Mas, se a palavra caiu em desgraça, as suas práticas desapareceram?
O primeiro uso conhecido de Propaganda remonta à Inscrição de Behistin, na Pérsia de 515 AC.
Existem ainda relatos de utilização das suas técnicas na Índia, Grécia Antiga e Império Romano.
O termo, propriamente dito, seria, no entanto, cunhado apenas muito mais tarde. É em 1622 que o Papa Gregório cria a Sacra Congregatio de Propaganda Fide.
Designada simplesmente como “Propaganda” e responsável pelo trabalho missionário da Igreja nos novos mundos.
Entretanto, no nosso velho continente, embaixadores, cronistas e políticos exaltam virtudes e feitos dos seus reinos.
Utilizam-se os primeiros "soundbites" e "keywords", antes mesmo de as expressões anglo-saxónicas dominarem o léxico da Comunicação. São as primeiras técnicas de propaganda. Mas o termo de origem católica nunca é utilizado nesse contexto.
É com o surgimento e disseminação da Imprensa de Gutenberg, que a Propaganda ganha uma nova ferramenta e "industrializa" a propagação. Martinho Lutero é um dos precursores durante a Reforma.
A sensibilização da opinião pública torna-se determinante em momentos históricos como a Revolução Francesa, a Independência dos Estados Unidos ou a Abolição da Escravatura.
Quanto mais letrada e politicamente ativa é uma sociedade, mais necessária se torna a propaganda para “controlar” os meios de comunicação de massas e moldar a opinião pública.
Porém, a palavra “PROPAGANDA” só se banaliza durante a Primeira Guerra Mundial - e pela mão dos britânicos.
O primeiro-ministro Lloyde George ordena uma campanha oficial de recrutamento para as forças armadas e que, para aumentar a eficácia da mesma, se demonize o inimigo.
A campanha resulta. Milhares de jovens oferecem-se para morrer nas trincheiras da guerra contra o “inimigo demoníaco”.
A Propaganda é agora, oficialmente, um instrumento político de manipulação das massas. É aqui que começa a ganhar conotação negativa. Pouco depois, já na Segunda Guerra Mundial, as democracias aliadas evitavam utilizar a palavra.
Os serviços de Propaganda dos diferentes países aliados chamam-se agora Relações Públicas. Por recomendação dos próprios especialistas em Propaganda. Perdão, Relações Públicas.
Nos governos autoritários, continua a existir mais tolerância para o termo. Propaganda é nome de ministério e cargo para ministro. A Comunicação é vertical, totalitária. Os cidadãos convencem-se, não se ouvem.
A guerra divide a semântica mas não a essência. De um lado e do outro comunica-se para demonizar o inimigo e para alterar o comportamento dos civis.
Em Portugal, o que fica do Estado Novo deve-se à Propaganda. É a Propaganda que marca a agenda ideológica, social, histórica e cultural. Mesmo a marca “Estado Novo” fica a dever-se ao propagandista.
Após o 11 de Setembro (2001), a questão da Propaganda volta a ser seriamente debatida nos EUA. A campanha “Shared Values” procura mostrar uma imagem diferente do País aos muçulmanos de todo o mundo.
No presente, a Propaganda continua a impregnar as nossas vidas, através da TV, do Papel ou das Redes Sociais. E, se há países (como a Coreia do Norte) nos quais a sua manifestação continua a ser óbvia, nas democracias é bastante mais dissimulada.
A promiscuidade da Propaganda com o Jornalismo é um golpe fatal na isenção e no rigor. Mas existe um outro tipo de Propaganda que está, novamente, a assumir uma conotação positiva.
São as campanhas de carácter institucional, que procuram moldar a opinião pública para temas sociais. Os apelos ao exercício cívico, como as eleições, ao apoio a organizações da sociedade civil e a causas sociais.
A essência e as técnicas da Propaganda continuam vivas, mas a palavra apenas é usada, nos países democráticos, com conotação negativa.
Mesmo os seus criadores excluíram-na. Em 1988, o Papa João Paulo II faz desaparecer a polémica Sacra Congregatio de Propaganda Fide. Nasce a Congregação para a Evangelização dos Povos.
O edifício é, no entanto, o mesmo: na mesma Via di Propaganda (Roma).