Marcelo Rebelo de Sousa

Professor de Direito, comentador político, Presidente da República e…jornalista. Em 2016 é eleito para o Palácio de Belém mas, durante as décadas de 1970 e 1980, dirige o Expresso e funda o jornal Semanário, antes de iniciar uma carreira de sucesso como comentador de TV​

«O Balsemão é lelé da cuca», lia-se na secção «Gente» no Expresso do dia 5 de agosto de 1978.

Balsemão, que não gosta de ser ridicularizado no próprio jornal e estando de férias no Algarve, ligou a Jorge Galamba Marques, diretor comercial do Expresso, que também tinha a incumbência de fechar as páginas do jornal na gráfica.

Perguntou-lhe se tinha lido a «Gente». Galamba Marques não se recordava daquele artigo. Como tal, releu o jornal com mais atenção e deu com a frase.

«Faça uma coisa, ó Jorge», disse-lhe Balsemão, «se isto não tem nada a ver com o Diário de Lisboa, vá lá acima procurar os originais e veja se é obra do Marcelo, mas acho isto muito estranho...»

Em resposta Galamba Marques disse a Balsemão: «Bom, tenho isto aqui à frente, estou a ler, e é a letra do Marcelo...» O estranho era a verdade, Marcelo era o autor da frase que Balsemão não achou piada.

Balsemão mandou-o chamar ao gabinete mas não o despediu do jornal. Marcelo era necessário ao Expresso.

 

 

A 12 de dezembro de 1948, em Lisboa, Maria das Neves Rebelo de Sousa foi para o hospital, para dar à luz o filho Marcelo, com o então Presidente da Comissão Executiva da União Nacional, Marcello Caetano, o sucessor de Salazar à frente dos destinos do País na época.

Marcelo Rebelo de Sousa nasceu no seio do poder, cresceu a conviver com ministros por via das funções políticas do pai, Baltasar Leite Rebelo de Sousa.

Em 1971 licenciou-se em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e mais tarde, em 1984, doutorou-se em Ciências Jurídico-Políticas pela mesma Universidade.

Antes de iniciar a sua carreira como professor catedrático nas Faculdades de Direito da Universidade Católica Portuguesa e Universidade Nova de Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa foi jornalista.

Começou pelo Expresso, chegando mesmo a dirigi-lo entre 1980 a 1983 e, ainda neste ano, fundou o Semanário, juntamente com Daniel Proença de Carvalho, José Miguel Júdice, Victor Cunha Rego, João Amaral, entre outros.

 

O Jornalista

Ainda não tinha 30 anos e já era diretor-adjunto doExpresso. As suas crónicas e notícias brilhavam no jornal de Balsemão, mas enervavam Sá Carneiro, o fundador do PPD que era então Primeiro-Ministro. Não era nada de pessoal, com ele nunca era: as mesmas crónicas, notícias e intrigas passaram a enervar Balsemão (o dono e fundador do jornal) quando este subiu a ministro e depois primeiro-ministro.

Piedade não era a característica mais conhecida em Marcelo. Mas acabaria mesmo como diretor do Expresso, mostrando naquelas páginas em tamanho broadsheet que a sua independência era o seu maior trunfo. Custasse a quem custasse.

Balsemão percebeu isso e tentou uma estratégia diferente: chamou Marcelo para o Governo, com a ideia de o tirar do palco noticioso e acabar com as críticas ao Governo que saíam do seu próprio jornal.

E assim começou a vida dupla de Marcelo. Estreou-se como secretário de Estado, depois como Ministro dos Assuntos Parlamentares.

Marcelo entediou-se rapidamente. O poder que tinha no Governo era menor do que a influência com que contava no Expresso.

Rezam as crónicas que nessa altura, com pouco mais de trinta anos, Marcelo se transformou num «distribuidor» de notícias por vários jornais. Depois, quando saiu do Governo, em 1983, voltou ao jornalismo. Para criar o Semanário, o jornal que tinha a mensagem «política pura e dura».

 

Marcelo, o jornalista, foi sempre ácido e cru com a política e outros assuntos relacionados com o poder em Portugal. No Semanário, escreveu a dada altura, sobre a Maçonaria em Portugal, «o cidadão comum sabe pouco, muito pouco, acerca do que é a Maçonaria e em que consistem os ideais maçónicos… Não conhece mesmo aquilo que “maçons” públicos e notórios dedicados ao labor histórico vão publicando, e que abrange muitas das principais personalidades já falecidas e que pertenceram a essa realidade sempre tão presente na vida nacional». Um assunto de entrelinhas que ganhou destaque no Semanário ou «o jornal de culto», como alguns lhe chamavam.

Nas páginas do novo jornal, o cronista Marcelo escreveu contra o bloco central de Mário Soares e Mota Pinto, que tinha nascido do fim abrupto do Governo de Balsemão. E abria uma janela de combate dentro do próprio PSD para o seu grupo, a «Nova Esperança» que era dele, de Durão Barroso, Pedro Santana Lopes, José Miguel Júdice e António Pinto Leite. Irritando Mário Soares, Marcelo usou o Semanário para imprimir uma data de validade ao governo PS-PSD e seguintes. «Estamos em Fevereiro de 1987. Os noventa dias em que se seguem servirão para revelar se o “wait and see” é a fórmula ideal para este partido (PSD), com este Governo, com este Primeiro-Ministro. E, de, Belém atento e repousado, o Dr. Mário Soares acompanha, feliz, a evolução dos acontecimentos».

Meses antes das eleições legislativas de 1987, que deram a maioria absoluta ao PPD/PSD e a permanência de Aníbal Cavaco Silva no cargo de Primeiro-Ministro, Marcelo escreveu uma crónica a apelar à atenção em outros temas que careciam de atenção em Portugal.

«Em vez de, como quase todos, prevermos eleições para 1987, preferimos seguir caminho diverso e sublinhar 5 outros grandes temas que estarão na ordem do dia neste tempo de transição.»

Um dos temas era a «Necessidade de Informar».

O Político

Marcelo Rebelo de Sousa aderiu ao Partido Social Democrata (PSD) após a sua fundação, em maio de 1974, e desde então foi sempre num jogo duplo acompanhando a vida do partido e dos jornais. Em 1987 deixou o Semanário e reforçou a sua presença na vida política tendo-se candidatado em 1990 a Presidente da Câmara de Lisboa e em 1996 tornou-se Presidente do PSD.

 

 

Durante a campanha para o município de Lisboa Marcelo mergulhou no Tejo, guiou um táxi e varreu o lixo.

Naquela altura, o estuário que banha Lisboa era um dos mais poluídos da Europa, com os esgotos de toda a cidade e dos seus arredores a desaguarem diretamente ali sem qualquer tratamento. Era um risco nadar naquelas águas.

Marcelo e a sua equipa inspirados no mergulho no rio de Walter Momped, aquando da sua candidatura à câmara de Berlim, fizeram do mergulho no Tejo o batismo da candidatura embora Marcelo tivesse aproveitado o momento para alertar para a «necessidade da requalificação da zona ribeirinha e a reconciliação dos lisboetas com o seu rio».

Marcelo não ganhou as eleições mas a sua campanha ficou marcada pela originalidade.

 

 

O professor e comentador televisivo

Ainda assim não largando a Comunicação Social, Marcelo tornou-se comentador político primeiro na rádio, na TSF, e depois na televisão, na TVI de 2000 a 2004 e de 2010 até 2015 e na RTP de 2005 a 2010. Paralelamente a estes percursos, Marcelo teve uma longa carreira no ensino universitário.

O seu percurso enquanto comentador tornou-o numa presença habitual e afável de grande maioria dos lares portugueses.

 

 

O Presidente da República

O professor Marcelo, o ex-jornalista ecomentadorapresentou a 9 de outubro a sua candidatura a Presidente da República.

A sua longa carreira mediática cruzada com o ensino e a política expandiram o seu grau de notoriedade para um nível fora do comum.

Marcelo apostou num baixo orçamento para a campanha afirmando que «é um escândalo» em período de crise gastar-se muito dinheiro em campanhas.

O candidato rejeitou ainda qualquer ligação desta decisão com a sua notoriedade acrescentando: «conheço muitos candidatos com notoriedade muito elevada que, no entanto, tiveram campanhas dispendiosas ao longo da vida, quer em campanhas legislativas, quer em campanhas presidenciais. E eram muito conhecidos, muito, muito conhecidos – tinham décadas de experiência política e de notoriedade pública e de exercício de cargos públicos».

 

 

No dia 24 de janeiro de 2016, os portugueses escolheram Marcelo Rebelo de Sousa para ser Presidente da República, nos próximos cinco anos.