História da Rádio em Portugal

Fernando Gardelho Medeiros criou, em 1914, a Rádio Hertz, em Lisboa. Apesar de rudimentares, foram as primeiras experiências de Rádio em Portugal. As emissões regulares surgem em Lisboa a 25 de outubro de 1925. A estação chama-se CTI AA e é propriedade de Nunes dos Santos. O ano marco da história da Rádio Portuguesa é 1928: o Major Botelho Moniz funda o Rádio Clube da Costa do Sol, mais tarde convertido no Rádio Clube Português.

Pioneiros da Rádio

Fernando Gardelho Medeiros criou, em 1914, a Rádio Hertz, em Lisboa. Apesar de rudimentares, foram as primeiras experiências de Rádio em Portugal. A Hertz foi suspensa pouco depois e ressurgiu em 1929, continuando durante cerca de um ano. Já em finais da década de 30, deu lugar à designação Rádio Continental. Outras estações se seguiram: a Rádio Aliança, no Campo Santana, a Rádio Lisboa, na Rua Serpa Pinto, e a ORSEC, no Porto. Até 1925, as emissões são feitas em circunstâncias muito particulares. Por vezes são transmitidas a partir de um quarto ou de instalações improvisadas. Eram feitas à noite quando o entusiasta tinha disponibilidade. E dependiam do seu investimento particular nos aparelhos destinados à emissão.

O início das emissões regulares

As primeiras emissões regulares surgem em Lisboa a 25 de Outubro de 1925. A estação chama-se CTI AA e é propriedade de Nunes dos Santos. Mas o ano marco da história da Rádio Portuguesa é 1928: nasce na Parede o Rádio Clube da Costa do Sol, mais tarde convertido no Rádio Clube Português. Fundadores: Major Botelho Moniz e Alberto Lima Bastos. O Estado preocupa-se com a Rádio em 1930 e chama a si o monopólio dos serviços de radiotelegrafia, radiotelefonia, radiodifusão e radiotelevisão. É criada a direção-geral dos Serviços Radioelétricos. Fica na dependência dos CTT. A primeira estação do Norte nasce em 1930 e é a Rádio Sonora. Um par de anos depois surgem a Invicta e o Rádio Clube Lusitânia, também no Porto, a Rádio Luso, a Rádio Amadora e a Rádio Graça, todas em Lisboa. A Rádio Graça, de Américo Santos, manteve-se viva até 1974, tendo sido uma das quatro estações que geraram os populares Emissores Associados de Lisboa.

O interesse estatal pela rádio

Depois da iniciativa legislativa de 1930, o Estado volta a interessar-se pela Rádio três anos mais tarde. É o ministro das Obras Públicas Duarte Pacheco quem incentiva a criação da Emissora Nacional. A inauguração oficial ocorre a 1 de Agosto de 1935. Tal como noutros países da Europa, também o Estado Novo apercebe-se das potencialidades do novo meio. A Emissora Nacional é, durante décadas, o principal meio de comunicação pública do regime. Ainda em fase experimental, a Rádio Renascença começa a emitir em 1936. Em 1937 têm início as emissões em onda média da emissora católica. Estava assim fechado o triângulo que dominou a oferta nacional de Rádio portuguesa no séc. XX: Rádio Clube Português, Emissora Nacional, Rádio Renascença.

Os anos do domínio

Foi na década de cinquenta que a Rádio começou a mostrar o potencial das suas capacidades expressivas e tornou-se no meio de comunicação dominante. Em 1950, o teatro na Rádio começou a ganhar contornos mais populares e comerciais com o surgimento do famoso folhetim Tide. Dois anos depois surgiu o Rádio Comédias. A Rádio servia para distrair a população, o principal objetivo da programação era o entretenimento. À primeira fase da rádio – espetáculo, à base de emissões diretas, seguiu-se o ciclo da criação de programas de passagem de discos e de conversa entre dois locutores, assim como de programas de humor. Emissões como a Voz dos Ridículos, a Parada da Paródia e Graça com Todos, estes dos produtores Parodiantes de Lisboa, foram alguns dos programas mais famosos da rádio nacional e o folhetim de maior êxito foi A Força do Destino. Em paralelo nasceram programas de discos pedidos como o omnipresente Quando o Telefone Toca, que difundia emissões diferentes nas várias estações comerciais. O crescente impacto da Televisão, acentuado a partir do final dos anos 60, levou a Rádio a adotar novos formatos e a modernizar-se. A Rádio Universidade, que atraía jovens estudantes, foi o instrumento de formação da generalidade dos novos profissionais e dela emanou um movimento de reforma que se alastrou às principais estações portuguesas. As emissões noturnas das rádios comerciais, que começavam então a emitir 24 horas por dia, foram as primeiras a sinalizar a mudança para formatos mais informais, novas tendências musicais e apresentação de temas de interesse social. Caía o modelo do 2.º locutor. O novo locutor, que era também realizador, falava diretamente com os ouvintes e tendo por fundo o início e o final das faixas musicais que apresentava.

O Rádio Clube Português começa emitir em FM

Em 1954, o Rádio Clube Português inicia as emissões em Frequência Modulada. A estação separou a emissão de Frequência Modulada, primeiro apenas em Lisboa, e dedicou-a a um público jovem. Nascia o Em Órbita, de culto à música anglo-saxónica, assim como as Produções Espaço 3 P, que levaram o estúdio para a rua e para as praias. Na Rádio Renascença destacava-se o Página 1, criado em 1968, que ligava a música portuguesa de protesto aos temas sociais. Até 1974, a emissão das rádios privadas baseava-se em produções independentes. As estações alugavam a generalidade dos seus horários a produtores que realizavam e exploravam comercialmente os seus próprios programas. Nos últimos anos da década de 60, produtores independentes apostaram em formatos com conteúdos mais informativos. PBX e Tempo ZIP apostavam em vedetas da TV como Carlos Cruz e José Fialho Gouveia e jovens radialistas como Adelino Gomes, Joaquim Furtado, João Paulo Guerra e José Nuno Martins. Ao mesmo tempo, o Rádio Clube Português e a Rádio Renascença apostavam em noticiários de hora a hora, pequenos e com impacto.

A rádio no 25 de abril

O papel de comando da Rádio nos acontecimentos políticos de 25 de Abril de 1974 atesta exemplarmente o impacto que a mesma então tinha como meio dominante da comunicação pública portuguesa. A breve trecho veio a ser substituída nessa posição pela TV.

Os caminhos da especialização

Em 1998, a Rádio Comercial implantou um modelo onde a programação da rádio se faz em função do desenvolvimento de uma ideia de negócio. A noção de se fazer rádio apenas por gosto caía por terra e instituía-se o conceito de prestação de um serviço, com níveis de crescimento em termos de faturação para as empresas. A segmentação do público, nomeadamente em função de interesses específicos, fez aumentar a criação de rádios especializadas. As estações emissoras procuram, então, oferecer um produto que satisfaça estes interesses, através da criação de formatos que vão de encontro às necessidades da programação alternativa. Muitas estações de rádio adotam uma postura de especialização. Criada em 1998, a Mega FM, ao contrário da Rádio Comercial, não assume uma especialização musical. Não se pode defini-la como uma rádio com conteúdos especializados, mas antes uma estação dirigida a um determinado público. Já a Mix FM nasceu em 1999, a partir do estudo de mercado que comprovou que existia público para uma rádio de rhythmdance. O rejuvenescimento da Rádio Comercial marcou o mercado da rádio em Portugal. Não só esta estação inovou o formato e a forma de comunicação com os ouvintes, como desenvolveu uma estratégia de conquista de audiências. Com a transferência de Pedro Tojal da RFM (Grupo Renascença), para a direção da Media Capital Rádio, a Rádio Comercial afastava-se do seu projeto inicial. Paralelamente, foi criada, em 2003, a Best Rock FM, para colmatar o espaço antes preenchido pela Comercial. Contrariamente à ideia da simples cópia, da simplicidade dos formatos e da banalidade do discurso, algumas estações de rádio assumem características muito próprias, diferenciando-se das restantes. Um destes exemplos passa pela Marginal, nascida em 1987 com a designação de Rádio Kit. Apesar de algumas semelhanças na programação ao longo do dia, existem outros programas de autor que fazem a diferença e procuram cobrir todo o espectro musical que diz respeito ao rock. Por um lado, a formatação é a garantia da qualidade das emissões. Assim, a grande maioria das estações de rádio aposta num formato que regula toda a emissão, através de uma playlist com temas organizados, frases pré-definidas, jingles e publicidade estruturada. No entanto, ainda existem espaços que deixam expressar o «eu» de cada locutor. Tal como o caso da Voxx, que nasceu em 1998 das cinzas da extinta XFM, cuja programação deixa ao critério de cada autor a personalização do seu próprio programa. Sempre com o objetivo de agradar o público, a emissora dá espaço para que os autores mostrem um pouco da sua personalidade nas escolhas musicais que fazem, à medida que acompanham a evolução e apresentam as novidades. Os programas «de palavra» da Voxx provam que a rádio não se faz apenas de música, e que só a rádio pode cumprir o papel de indutora do pensamento, através da criação de novos conceitos no ouvinte. Integrada no grupo de canais do Estado, a Antena 2 é destacada para cumprir parte do serviço público de radiodifusão. Adicionalmente, e por não ter objetivos comerciais, a estação de rádio distancia-se das demais, assumindo-se como o espaço privilegiado para a cultura na rádio. As iniciativas de cariz mais erudito estão muitas vezes condenadas nas estações privadas, nomeadamente por razões económicas. Contudo, a Rádio Luna é a prova de que a música clássica pode sobreviver num emissor privado. Dirigido aos ouvintes de música clássica e jazz, a emissora, criada em 1999, deixa de fora da sua programação as conferências, o teatro radiofónico, os programas biográficos de grandes artistas, a cultura popular ou o folclore. Um aspeto comum às rádios especializadas é a tendência generalista no que toca ao tratamento editorial da informação. Por exemplo, a Best Rock FM, a Marginal, a Mega FM e a Mix FM apresentam uma componente noticiosa sobre a atualidade, complementada com rubricas e outros espaços informativos orientados em torno da temática da estação. Assim, não podem ser consideradas rádios temáticas, mas sim especializadas.

A Rádio Informação

A TSF é uma estação temática, de informação, mas ainda não implementou uma conceção estreita de informação, na medida em que a estrutura das suas emissões combina a música e a informação. A especialização dentro da especialização ainda está para chegar Portugal, com rádios temáticas especializadas. Este formato, que concentra a informação num só conteúdo, é muito comum nos Estados Unidos, devido à dimensão da audiência, à sofisticação do mercado e ao elevado investimento publicitário neste meio. Embora possível, ainda não existe uma organização que ofereça ao ouvinte conteúdos informativos dentro de um âmbito por ele determinado, ou serviços de informação que satisfaçam necessidades específicas. A personalização da informação já é comum nas newsletters que os ouvintes/utilizadores subscrevem nos sites de informação. No entanto, a convergência entre o sistema de comunicação analógico e o sistema digital, com o envio de mensagens escritas ou sonoras para o telemóvel, ainda não foi posto em prática em Portugal.

Os programas de antena aberta e a interatividade da rádio

Nos anos 30, quando foi colocada na mesa a criação da Emissora Nacional, dizia-se que a rádio podia ser o instrumento mais democrático do mundo, por educar as pessoas e por chegar a todo o lado. A verdade é que a rádio procurou a interatividade desde o seu início. Quando comparada com os outros meios, a rádio é um meio mais barato, e portanto, mais livre. Dado o facto dos custos de instalação, produção e manutenção serem menores que os de outros meios de comunicação de massa, a rádio consegue a pluralidade de opiniões e uma representação ideológica mais abrangente. No âmbito da interatividade, a rádio adotou os programas de antena aberta para atingir objetivos diferentes. Os programas de antena aberta são muito comuns no espectro radiofónico dos EUA e abrangem desde as temáticas mais polémicas, aos temas mais conservadores ou excêntricos. Existem três tipos de programas de antena aberta: «the exhibitionist phone-in», «the confessional phone-ins» e «the expressive phone-in». A tradição norte-americana aponta para o tom confessional, onde os ouvintes relatam os seus problemas pessoais e anseios.

A Voz do ouvinte

Em Portugal, o sucesso passa pelos programas que estabelecem a ligação entre o domínio público e o privado, permitindo a expressão das vozes dissidentes sobre assuntos públicos. O que não se pode ignorar é o facto de que, apesar de os programas de antena aberta permitirem aos ouvintes dar a sua opinião, a situação que lhes é proporcionada pela emissora obedece a regras e a uma temática pré-determinada pela estação. Ainda assim, a rádio, por dar a oportunidade aos convidados e ouvintes de trocarem ideias entre si, consegue ultrapassar os restantes media nacionais, fazendo valer o princípio igualitário da opinião. Além disso, outras experiências e opiniões válidas são confrontadas com a visão do «especialista», permitindo a pluralidade de opiniões de grupo e a manifestação de posições individuais. Torna-se importante perceber como a fórmula do «ouvinte em linha» funciona: o facto de a audiência se manter em contacto, cria a ilusão de que a rádio é um meio bidirecional da comunicação. Numa altura em que a participação da audiência estava limitada aos programas de escolha dos discos pedidos (dos quais se celebrizou o programa «Quando o Telefone Toca», na Renascença), foi «O Passageiro da Noite», na rádio Comercial, que deu início aos programas de linha aberta com tema livre em Portugal. Contudo, é de notar que as formas de participação não se ficam neste esquema da antena aberta. Assiste-se, cada vez mais, à tentativa por parte das estações em implicar os ouvintes na sua comunicação, quer através do telefone quer de mensagens enviadas através da Internet. Posteriormente, é apresentada a música mais pedida, as gravações de ouvintes que elegem «aquela» como a melhor estação, ou ainda, os inúmeros passatempos realizados. O programa «Boa Noite» da Renascença mantém este formato de antena aberta, mas assume uma vertente de companhia, para um público mais solitário. A rádio torna-se, assim, não só um veículo para alargar as possibilidades de participação democrática, mas como um instrumento que permite às pessoas estarem em contacto com outras. Este tipo de programas de antena aberta funcionam tanto como uma tribuna, para as provocações que desafiam as conceções dominantes, tanto como tribunal, para os grupos sub-representados pelos media, que desta forma conseguem dar o seu contributo nos assuntos públicos mais importantes. Na Rádio Renascença, os programas «Fórum TSF» e «Bancada Central» são bons exemplos da passagem para um modelo dialógico de comunicação que ultrapassa o sistema de receção passiva da rádio. De acordo com estudos realizados, está provado que estes programas estimulam a comunicação política e promovem a livre expressão, nomeadamente para assuntos de teor cívico e político. São programas que permitem que o cidadão usufrua de um espaço para discussão, onde o senso comum é qualificado como conhecimento autêntico, na medida em que, ao ser fundado na experiência, se diferencia do conhecimento dos especialistas. Com a finalidade de dar voz às pessoas, a rádio apresenta duas grandes vantagens: é mais ouvida do que os jornais são lidos e torna-se mais fácil pegar no telefone e ligar para a redação do que dar opinião por escrito e enviar para os jornais. Os debates mediatizados na rádio, para além de se apresentarem como um «ponto de encontro» onde o público pode trocar ideias, fornecem uma excelente base de representação social. Assumem-se como espaços de discussão nos quais as pessoas podem defender as suas ideias, constituindo um fator fulcral para a construção de uma identidade cultural.