Earvin "Magic" Johnson e o vírus do HIV
A 7 de novembro de 1991, o basquetebolista Magic Johnson anunciou, após 12 épocas de retumbante sucesso desportivo nos Los Angeles Lakers, que iria abandonar a competição. A razão? Era portador do vírus HIV/SIDA.
O anúncio
«Vou combater esta doença mortal», disse o norte-americano. «Não é como se a minha vida tivesse terminado, porque não terminou. Vou sobreviver. Só tenho de tomar medicação e começar a partir daí». Em direto, através da CNN e do ESPN todos assistiram à confissão de Magic Johnson.
O anúncio surgiu numa altura em que a SIDA ainda era tabu: estava associada à homossexualidade e ao consumo de drogas.
«O sexo seguro é o caminho a seguir. Pensamos que só as pessoas gays podem contrair, que não me vai acontecer a mim. E aqui estou eu a dizer que pode acontecer a qualquer um, até a mim, Magic Johnson».
O atleta não revelou como foi contaminado mas admitiu, mais tarde, que apesar de ser casado, o contágio havia sido feito através das relações com múltiplas de parceiras.
«I’m gonna beat it», compromisso que o atleta assumiu consigo e com todos os que o admiravam, contou o Daily News.
Durante o mês de novembro de 1991, mês do anúncio de Magic Johnson, o exame de despiste do vírus do HIV/SIDA aumentou cerca de 60% na cidade de Nova Iorque. Rapidamente, a urgência na feitura deste exame alastrou-se por todo o país. Tal foi a azáfama, que os centros de teste e aconselhamento que, até à data, faziam consultas sem marcação, passaram a exigir agendamento prévio. A revelação do atleta marca uma nova era em prol da desmistificação da doença.
A batalha contra o estigma do HIV
Ainda em 1991, Magic, agora porta-voz da prevenção contra o HIV, criou a Fundação Magic Johnson, que atualmente já auxiliou milhões de pessoas.
Embora fora das competições, Magic jogou no All-Star de 1992, apesar de algumas vozes contrárias à sua participação. Fez também parte do célebre Dream Team, a melhor equipa de basquetebol alguma vez reunida, que conquistou a medalha de ouro para os EUA nos Jogos Olímpicos de Barcelona.
Em excelente forma física, o famoso n.º 32 planeou o regresso aos LA Lakers para a época de 1992/93, menos de um ano após ter anunciado a sua saída, mas a controvérsia subiria de tom.
A Controvérsia dos Jogos Olímpicos
Nos Jogos Olímpicos, dentro e fora da equipa foram expressas reservas em relação ao regresso de Magic Johnson. Apesar de vários médicos assegurarem que a possibilidade de infeção era igual a zero, muitos foram aqueles que temeram partilhar o campo com Johnson.
O mais famoso receio veio de um antigo colega de equipa, Karl Malone, que chegou a sugerir que a infeção poderia acontecer por contacto com o suor de Magic.
“The controversy over Magic Johnson's participation in the Summer Olympic Games is another example of panic and prejudice toward H.I.V.-infected people. Time and time again, it has been shown that transmission of H.I.V. is overwhelmingly through sexual contact and sharing needles. The risk of H.I.V. infection by individuals engaging in a basketball game is so low that it cannot be statistically measured”, assegurou M. Roy Schwartz, vice-presidente da American Medical Association (AMA). [A controvérsia que se formou devido à participação de Magic Johnson nos Jogos Olímpicos de Verão é outro exemplo de pânico e preconceito face às pessoas infetadas com HIV. Uma e outra vez, tem sido mostrado que a transmissão do HIV é na esmagadora amioria das vezes através de contacto sexual ou partilha de agulhas. O risco de transmissão de HIV entre pessoas a jogar basquetebol é tão reduzido que nem é possível calcular.]
O assunto tornou-se internacional e o atleta desistiu da competição. «A controvérsia está a prejudicar o basquetebol. Desisto por uma razão apenas: não quero arruinar o jogo que Larry [Bird], Michael [Jordan] e eu ajudámos a revitalizar», disse o jogador quando colocou de parte o regresso.
Eavrin «Magic» Johnson
Em 1974, altura em Johnson fazia os sues primeiros dribles de destaque, Lansing Everett, um jornalista do Lansing State Journal apelidou-o de «Magic», uma vez que já aí Johnson destacou-se entre os companheiros e adversários de equipa.
Já nos LA Lakers, Magic foi um dos responsáveis por revitalizar a NBA, que durante a década de 80 se encontrava pouco lucrativa e em decadência. Com Magic Johnson, os Lakers venceram 5 campeonatos e o atleta foi premiado com troféu «NBA Most Valuable Player» nas temporadas 1986-87; 1988-89 e 1989-1990.
Quando Magic entrava em ação, o público vibrava e os comentadores anunciavam «It’s time for showtime», referindo-se à prestação do atleta que contava sempre com truques que ofuscavam e baralhavam os adversários.
Nos anos seguintes à descoberta de que era portador do vírus, Magic dedicou-se a provar que uma pessoa com VIH «pode continuar a levar uma vida ativa».
Em 1996, com o público mais informado acerca desta doença, Johnson percebeu que a resistência ao seu regresso não seria tão forte como anteriormente e, decidiu que estava na altura de voltar a vestir o uniforme dos Lakers.
Karl Malone, o antigo colega que o descriminara estava agora mais esclarecido: «As coisas hoje são diferentes. Já não tenho nenhum problema em relação a isso». O regresso, antes da reforma definitiva, durou 36 jogos e muitas vitórias.
Sem dar sinais de abrandamento, fora dos pavilhões de basquetebol, Magic Johnson tornou-se um empresário notavelmente bem-sucedido, com interesses em vários ramos: é dono de cinemas, restaurantes, de uma empresa de organização de eventos e concertos, seguradoras – que lhe valem vários milhões de dólares por ano.
Contudo, o seu maior triunfo continua a ser a sua saúde, após 20 anos, continua livre de SIDA.