Luís de Sttau Monteiro
Homem de vários ofícios mas que no jornalismo se destaca pelas suas colaborações na revista Almanaque e no suplemento Mosca do Diário de Lisboa
Felizmente há jornalista
A peça «Felizmente há Luar!» está indissociavelmente ligada a Luís de Sttau Monteiro. A obra, inspirada no teatro de Brecht, foi de imediato proibida de ser levada a cena. Recuperando os acontecimentos anteriores da história portuguesa, a história procurava fazer uma denúncia da situação contemporânea. Ainda assim, a censura não conseguiu impedir que fossem vendidos 160 mil exemplares da peça. Além do jornalista e cronista, nascia um escritor.
Luís Infante de Lacerda Sttau Monteiro nasceu em Lisboa, a 3 de abril de 1926. Aos 10 anos acompanha o seu pai, Armindo Monteiro, que parte para Londres para exercer funções como embaixador de Portugal.A sua educação na capital inglesa permitiu-lhe um contacto mais próximo com alguns movimentos de vanguarda da literatura anglo-saxónica, que iriam influenciar significativamente a sua obra.
Mas antes existiram as pistas de corrida e os tribunais
Entretanto, em 1943, o pai entra em discordância política com o regime de Salazar, e demite-se da função de embaixador.
A família regressa então a Lisboa, onde Luís de Sttau Monteiro termina os estudos. Apesar do seu interesse pela área da Matemática, acaba por optar por uma licenciatura em Direito, na Universidade de Lisboa. Nos dois anos seguintes, exercia advocacia. No entanto, Lisboa não era suficiente. Luís de Sttau Monteiro voltava para Londres e vive uma curta experiência como condutor de Fórmula 2. Conhece a jovem inglesa June Goodyear, com quem se casa a 27 de setembro de 1951, em Sintra.
Finalmente o jornalista
Regressando a Portugal, Luís de Sttau Monteiro envereda pelo jornalismo.Colaborou em várias publicações, mas destacou-se na revista Almanaque, onde também eram redatores Augusto Abelaira, José Cutileiro, Alexandre O’Neil, Vasco Pulido Valente e José Cardoso Pires.
Trabalhou ainda no suplemento A Mosca, doDiário de Lisboa, tendo colaborado com Joaquim Letria, José Cutileiro, Mário Castrim e João Abel Manta. Foi igualmente nesta publicação que Luís de Sttau Monteiro escreveu as crónicas gastronómicas «A Melga no Prato», e onde criou, entre 1969 e 1970, a secção de crítica intitulada «Redações da Guidinha».
Nas crónicas da «Guidinha», Luís de Sttau Monteiro personificava uma miúda lisboeta de classe média-baixa que, através de uma linguagem deliberadamente infantil e sem pontuação, descrevia a vida quotidiana com o intuito de criticar e satirizar o estado da nação.
Luís de Sttau Monteiro escreveu ainda crónicas gastronómicas sob o pseudónimo de Manuel Pedrosa e colaborou também regularmente nos jornais Se7e,O Jornal eExpresso. Mas Sttau Monteiro não se ficava pelo jornalismo.
Em 1960, lança o seu primeiro romance «Um Homem não Chora», seguido de «Angústia para o Jantar», onde denuncia, com o seu humor cáustico, os comportamentos típicos da burguesia.
Com a publicação de «Felizmente há Luar!», os temas da defesa do Homem, da liberdade, da luta pela justiça social e da denúncia política tornam-se uma constante na escrita de Sttau Monteiro.
A peça é baseada na tentativa de revolta liberal de 1817, supostamente encabeçada por Gomes Freire de Andrade. Através da recriação dos acontecimentos históricos que levaram à prisão e ao enforcamento de Gomes Freire pelo regime de Beresford e com o apoio da Igreja, Sttau Monteiro faz um apelo épico e politicamente empenhado, denunciando a situação de Portugal nos anos 60.
Em 1962, a peça foi distinguida com o Grande Prémio de Teatro da então Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses. No entanto, o escritor encontrava-se na prisão por suspeita de ter colaborado na «intentona de Beja».
Devido a esta experiência traumática, Sttau Monteiro voltou para Inglaterra, onde continuou a escrever peças de teatro. Destacam-se Todos os anos pela Primavera; «O Barão» (adaptação do romance de Branquinho da Fonseca); e «Auto da Barca do motor fora da borda» (adaptação do Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente).
Em 1967, já de regresso a Portugal, volta a ser detido pela PIDE após a publicação das peças satíricas «A Guerra Santa» e «A estátua», onde teceu duras críticas à ditadura e à guerra colonial.
Contudo, tal vivência não o deita abaixo, e escreve, em 1968, a peça «As mãos de Abraão Zacut», cuja ação se situa num campo de concentração.
Em tempos de liberdade
Com a Revolução dos Cravos, tornou-se possível levar a peça «Felizmente há Luar!» a cena. Foi em 1978, após 16 anos da sua publicação, que a obra foi encenada no Teatro Nacional D. Maria II. A peça seria ainda considerada um dos 100 Livros Portugueses do Século XX na listagem de Fernando Pinto do Amaral, publicada n’O Público de 27 de abril de 2002.
O seu romance «Angústia para o Jantar» foi adaptado para uma série de televisão transmitida na RTP. Foi um dos grandes sucessos da programação em 1975.
Mas o sucesso de Sttau Monteiro não se ficava por aqui. O romance inédito «Agarra o Verão, Guida, Agarra o Verão» foi igualmente adaptado para uma novela televisiva em 1982, intitulada «Chuva na Areia».
Luís de Sttau Monteiro consagrar-se-ia, principalmente, como dramaturgo, com a publicação de inúmeras peças e adaptações. Ainda assim, o seu carisma literário impôs-se no romance, na crónica e no jornalismo.
Escritor multifacetado, Sttau Monteiro é, acima de tudo, uma figura incontornável do século XX.